sábado, 22 de fevereiro de 2014

Photographia(S)

"O darmos-nos à morte para que se viva. Que venha então o banquete. Que por uma vez se abatam sobre a rês todas as bocas famintas. Devorar na vez de amar; chacinar o que não sabem (nem saberão) construir. Que impantes exibam a presa nas suas bocas. Do que ficar, farei consecutivas manhãs. Sucessivos resgates, sucessivos lugares. Que se faça inteiramente noite e que todas as sombras saiam do redil da luz imerecida e se abocanhem inclementes e que no delírio da festa ardam como fogo-fátuo. Do que ficar lobrigarei outras manhãs, outros lugares. Sem detença o façam. Façam-no por fazer, façam-no agora, façam-no por fim, façam-no até ao fim, alheios a quaisquer razões porque não as há; nunca as houve. Por vezes, sabes, era apenas isso que pedia - não um sortilégio - apenas o lugar frondoso da banalidade. O abrir-se a planície como um campo pacificador. E o olhar estender-se sem culpa por sobre todas as coisas. O não haver nomes. Sabes, por vezes, represam coisas que pela sua natureza própria são de fluir: pois não pede o rio o seu mar e os lábios e as mãos e os olhos seus pares. Pois bem, aguardarei que a saciedade faça seu caminho, aquele que entorpece e adormece e sairei. E mesmo que se ergam relevos verei planícies e mesmo que se reergam relevos e ardis divisarei planícies e se à espada responderem parede tomá-la-ei com as próprias mãos e morrerei para que viva. Há-de haver um lugar. E desse lugar verei nascer o dia. Um dia que se estenda, assim como a toalha que cobre a mesa, na planura e sem fome nem sede nem amargura tomar-te-ei em mim." Filipe



Sem comentários: