terça-feira, 2 de novembro de 2010
Análise do País por Frei Fernando Ventura
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Capa da Ilustração Portuguesa na comemoração do primeiro aniversário da Republica Portuguesa em 1911
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Assim era a ASAE em 1833
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Amélia Rey Colaço - 1927

"Amelia Rey Colaço, uma individualidade com ideias proprias, com exigências de estética, tem querido atirar-se para o campo largo da realisação livre. Recordo neste momento a forma verdadeira e expontanea como ela ergueu e viveu os quadros de "É preciso viver!..." Mas a porta ferrea, de grossas e pesadas cadeias, que dá para o campo livre, intimida-a. Teme pelo publico, teme pelos seus companheiros.
Mas dia virá em que Rey Colaço sentirá a atracção irresistivel, levantará a aldraba e não se arrependerá."
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Temos de mexer na Amália - Revista Ipsilon - Jornal Público

Tem sido assim a nossa relação com ela: aprisionámos o monstro. Amália tornou-se figura sem corpo, à mercê do imaginário colectivo. A exposição "Amália, Coração Independente" pode ser o início de uma nova relação.
Quando Jean-François Chougnet sugeriu o título “Coração Independente” para a exposição que abre terça-feira em Lisboa, no Museu Berardo e no Museu da Electricidade, não estava a contar com resistência interna. Fez uma sondagem junto da sua equipa e “ninguém gostou”, revela. “Diziam que era um fado de que ninguém gosta, que não era um fado popular, mas um fado para a ‘intelligentsia’, etc.” No dia seguinte, o director do Museu Colecção Berardo apanhou o autocarro 745 para o aeroporto de Lisboa e reparou num jovem com um leitor de MP3 a seu lado – isto é, reparou no que ele ouvia. “Dois dias depois regresso aqui e digo: ‘Se há um jovem no autocarro 745 a ouvir ‘Estranha Forma de Vida’ [canção de que fazem parte os versos ‘Coração independente, coração que não comando’], é porque não é uma coisa totalmente fora...”, ri-se.
É uma “petite histoire”, mas é reveladora do que tem sido a história da nossa relação com Amália Rodrigues: à força de a meter em caixinhas, nunca deixámos que fosse tudo o que podia ser. Aprisionámos o monstro e criámos regras de convivência para o manter sob controle. Amália tornou-se uma figura sem corpo à mercê das disposições do imaginário colectivo. Somos reféns convertidos em sequestradores: a sombra de Amália é inescapável, mas também não a deixamos à solta (e tentamos sempre disparar primeiro).
É por isso que este pode ser o início de uma nova relação com Amália: a exposição “Amália, Coração Independente”, que está no centro de uma verdadeira Operação Amália, com uma programação intensa que se estende a outras instituições (Teatro S. Luiz, Museu do Fado) no momento em que se assinala o décimo aniversário da morte da fadista, propõe repensar o fenómeno nas suas múltiplas dimensões com uma perspectiva contemporânea. Além da tentativa de concentrar Amália na sua totalidade – fadista, actriz de cinema, vedeta internacional, mito nacional, etc. – procuram lançar-se novas abordagens que, se não quebram o espelho, pelo menos poderão abrir fissuras na percepção pública da figura. Talvez um dia olhemos para agora como o momento em que se fez o “reset” de Amália.
Primeira constatação: apesar da sua popularidade, prestígio e amplitude, Amália tem sido pouco estudada, o que é revelador do estado incipiente dos estudos culturais em Portugal. “A minha primeira surpresa, ao começar a trabalhar sobre Amália, é que não há grande bibliografia”, diz Jean-François Chougnet. “É um assunto evidente mas que não é tão tratado quanto parece.”A única biografia existente, que continua a ser a referência de base para qualquer investigador, foi publicada em 1987 pelo ex-crítico de teatro e antigo director do Museu Nacional do Teatro, Vítor Pavão dos Santos, e reeditada em 2005. Intitulada “Amália – Uma Biografia”, é, na verdade, uma espécie de autobiografia composta a partir de inúmeras e extensas entrevistas (78 horas de gravações) conduzidas entre 1982 e 1986.
“O Vítor Pavão dos Santos é o ponto de partida e de chegada de todos os estudiosos da Amália e a gente tem de tirar o chapéu ao trabalho dele porque sem ele tínhamos de começar do zero”, nota o musicólogo Rui Vieira Nery. “Mas não podemos esquecer que são entrevistas tardias. E que a Amália relembra a sua vida mas também reconstrói a sua imagem. Não é que esteja a tentar enganar-nos. Mas ela própria vai olhando para a sua vida e vai refazendo as coisas. Olha com uma perspectiva que já é posterior e que não corresponde àquela que ela tinha na altura. Temos de desmontar o seu discurso e perceber em cada época qual é a postura dela e como é que foi evoluindo.”
David Ferreira, ex-director da EMI-Valentim de Carvalho, responsável por muitas reedições da obra de Amália e pelas duas compilações que vão ser lançadas em simultâneo com a exposição “Coração Independente”, corrobora: “Faz falta um documento do mesmo género pré-1974” porque “não é a mesma pessoa”.Segunda constatação: pelas suas características, Amália é um tema que resiste à análise crítica. “Há um obstáculo muito grande que parte da relação afectiva que temos todos com ela”, diz Nery, acrescentando que existe uma tentação de proteccionismo em relação à figura. “É preciso não divinizar de tal maneira a Amália que ela se liberta da espécie humana e do contexto específico em que se moveu.”
A exposição “Coração Independente” é acompanhada por um catálogo, que é um complemento, mais do que uma reprodução gráfica da mostra, e denota um esforço para produzir análise. Pediu-se a um conjunto de especialistas que reflectissem sobre os campos de acção de Amália ou sobre aspectos específicos: a sua dimensão política durante o regime salazarista, o reportório musical (Rui Vieira Nery) e poético (António Guerreiro), imagem fotográfica (Emília Tavares), filmografia (António Rodrigues), etc.
Muitos deles, ouvidos pelo Ípsilon, admitem que uma das dificuldades na abordagem de Amália é a profusão de lugares-comuns, a par de uma “aura de respeitabilidade” (Emília Tavares) que contribui para a preservação de uma imagem canónica. “Como é um mito, Amália convida muito à repetição das fórmulas litúrgicas de veneração – ‘a santa do fado’ e por aí fora”, aponta Vieira Nery. “Não podemos ter estas relações de fidelidade mórbida a uma figura intocável. Temos de mexer na Amália.”
Houve pelo menos um caso em que isso implicou tocar numa questão sensível: a eterna dúvida sobre o nível de envolvimento político de Amália durante o Estado Novo. Se calhar, não é por acaso que tenha sido um francês a reabrir o “dossier Amália” no catálogo. Ele admite: não foi por acaso. “A polémica tem a ver com a relação da sociedade portuguesa com o Estado Novo. Não é uma questão específica de Portugal. O dossier da ocupação alemã no meu país só foi reaberto nos anos 70-80, aliás por um americano, Robert O. Paxton.”
Sem escamotear alguns “erros” cometidos pela fadista – a sua actuação no Estádio de Alvalade numa gala promovida pelo Governo num momento de apelo ao boicote e protesto face à fraude eleitoral de 1958, e umas quadras enviadas a Salazar quando este caiu da cadeira (“Ponha-se-me bom depressa / Meu querido presidente / Depressa, que essa cabeça / Não merece estar doente”) –, Chougnet dissipa quaisquer fantasmas de colaboracionismo. “Muitos amalianos dizem que não vale a pena falar disso. Eu acho que vale a pena, precisamente porque não houve crime. A Amália nunca fez parte da PIDE, nunca houve um túnel entre o Palácio de São Bento e a casa dela, como foi dito depois do 25 de Abril.” Refere-se à campanha de boatos que visaram Amália durante o período revolucionário, e que a alinhavam com o regime deposto. Vieira Nery: “Quando tiveram essa postura, as pessoas esqueceram-se de coisas importantíssimas, como o facto de nos anos 50 Amália cantar Sidónio Muralha, que era um exilado político anti-fascista, perseguido pela PIDE. E cantou o ‘Libertação’ do David Mourão-Ferreira, que era o ‘Fado de Peniche’, que toda a gente sabe que foi escrito em alusão à prisão de Álvaro Cunhal. A casa da Amália era um espaço de liberdade onde conviviam intelectuais maioritariamente da oposição. Não se conspirava contra o regime mas não havia restrições de palavra. Portanto, Amália é tudo menos um símbolo da ideologia fascista pura e dura.”
António Rodrigues, programador da Cinemateca, diz que a filmografia de Amália (oito filmes, entre 1946 e 1965) permanece desconhecida porque “a maior parte das pessoas não viu os filmes”. “Os portugueses em geral têm tamanha rejeição em relação ao cinema anterior ao 25 de Abril que se recusam a ver. Se eu passar uma coisa ‘kitsch’, em ‘cinemascope’ e a cores, com o António Calvário, as pessoas não vão ver, nem para rir nem para atirar pedras. Mas se passar uma coisa pimba com a Doris Day, já vão.”
Entre os especialistas existe a opinião de que a carreira de Amália no cinema nunca arrancou como podia, que “não deu certo”, que foi uma ocasião perdida. Rodrigues nota que ela “não falhou mais do que a de Edith Piaf ou Billie Holiday”, que até trabalharam em cinematografias mais sólidas e ricas do que a portuguesa. Tem uma filmografia maior e foi das poucas cantoras “a fazer um papel inteiro”. Amália “nunca é má no cinema”, diz. “É sóbria e intensa.”
Jean-François Chougnet viu Amália pela primeira vez ao vivo no Olympia em 1975, e assistiu a mais três concertos em Paris. “Cada um de nós, provavelmente, tem uma Amália verdadeira a defender”, reconhece. Na prática, isso significa que aceitamos uma parte da história mas rejeitamos outra ou outras. A perda é nossa. Amália “teve cinco ou seis carreiras diferentes”, resume o director do Museu do Berardo: os anos iniciais marcados pelo reportório clássico do fado e pela música do compositor Frederico Valério; a carreira de estrela de cinema a partir de 1947; a “fase francesa”, que arranca com a sua participação no filme de 1955 “Les Amants du Tage”, onde canta “Barco negro”, e que desperta o interesse de Bruno Coquatrix, empresário do Olympia; a “explosão de carreira”, que corresponde à colaboração com o compositor Alain Oulman a partir de 1962; e o pós-25 de Abril. Mas em vez de uma visão de totalidade, esta evolução cambiante tem gerado leituras segmentadas, com o privilégio de certas fases em detrimento de outras. “Da grande fase Oulman sabemos tudo”, lembra Chougnet. “Mas a última fase é como algo nos grandes pintores: o último Picasso, o último Renoir são pouco considerados. E, de facto, os amalianos tradicionais dizem que a última fase é mais fraca.”
Vieira Nery diz que a Amália dos primeiros 20 anos de carreira é tão importante quanto a grande renovação dos anos 60 trazida pela sua associação com Alain Oulman. “Se Amália tivesse morrido em 59, nós teríamos de qualquer maneira um contributo extraordinário para a história do fado. É preciso trazer essa primeira Amália ao de cima, para combinar com a Amália da época de grande maturidade e para fazermos um exercício que é delicado e melindroso: ver a Amália final. É muito fácil dizer: ‘Ah, é a Amália sem voz, com a voz estragada’ e tudo o mais. A voz está num frangalho mas há tantos cantores, de jazz por exemplo, que ouvimos até ao fim com interesse. Há uma espécie de maturidade final com uma profundidade e uma inteligência redobradas. Se tivermos estas três épocas traçadas, percebemos um fenómeno muito mais complexo, muito mais rico e muito mais facetado do que lembrarmo-nos apenas da ‘Gaivota’, do ‘Fado Português’ ou do ‘Povo Que Lavas no Rio”, que são momentos grandes mas têm um contexto, têm uma história, não são coisas isoladas.”
Emília Tavares, historiadora e curadora de fotografia, analisou a construção da imagem de Amália ao longo da sua carreira. O encontro com a fotografia não foi um produto da sua fotogenia, espontaneamente captada pela objectiva, mas o resultado uma gestão cuidada da imagem. “A Amália é muito moderna nisso. É como se um designer hoje pegasse no fado e na imagem dela e fizesse uma coisa nova. Sem distorcer nem renegar os aspectos visuais ligados ao fado, ela consegue modernizá-los e dar-lhes uma nova interpretação e um novo uso. Consegue criar uma personagem, que tem poucos adereços. Reinventa a maneira de usar o xaile, reinventa a maneira de usar o preto, veste-se com vestidos muito mais vaporosos e deixa de usar a chita da Severa. Aquela voluptuosidade bairrista que a Severa tinha, a Amália sofistica-a. Dá-lhe uma envolvência muito misteriosa: o negro, a expressividade, o fechar os olhos quando canta...”
Ao mesmo tempo, Amália não se manteve fiel a um estilo fotográfico. Retratada por portugueses como Silva Nogueira e Augusto Cabrita, e por fotógrafos estrangeiros que são a referência para o “star-system” da época (o Studio Harcourt, em Paris, e Bruno Hollywood), o portfolio de Amália revela mudanças e rupturas e a exposição explora os contrastes entre a Amália dos primeiros anos, representada segundo estereótipos fadistas (mãos na anca, olhar enlevado e dirigido ao céu), e uma progressiva sofisticação que acompanha a sua internacionalização (retrato de estúdio à maneira de Hollywood, imagens que dão a ver o mundanismo de uma estrela, mudanças físicas radicais que abalam a representação tradicional da fadista).
Tal como mudou o reportório do fado para que um público internacional o acolhesse, “Amália percebeu, pela grande intuição que tinha, que era preciso mudar a sua imagem”, diz Emília Tavares. Uma imagem que faz valer a sua feminilidade – “há uma certa erotização, que foi sempre uma coisa pudica de se falar, como se a Amália não tivesse sexualidade” – e que se afasta dos modelos da cultura oficial do salazarismo.
“Era uma mulher independente que fumava em público, e emancipada”, lembra José Manuel dos Santos, programador da Fundação EDP, amigo de Amália. “Parecia, quase antes do tempo, uma daquelas romancistas francesas... Quer dizer, vemos fotografias dela dos anos 60 e parece uma mulher tão livre e emancipada como a Françoise Sagan. Não tinha o estereótipo da mulher portuguesa desse tempo.”
Emília Tavares lamenta a inexistência de uma reflexão crítica no campo dos estudos de género: “Era interessante perceber que efeitos é que esta imagem da Amália teve ou não nalguns sectores da sociedade portuguesa”, diz. Rui Vieira Nery diz o que podia ser o programa de “Coração Independente”: “Não há herdeiros legítimos da Amália. Todos nós somos herdeiros e nela cabem os nossos olhares todos. Porque é uma obra aberta.”
Temos hoje condições para avaliá-la de forma diferente?Jean-François Chougnet é cauteloso. “Se calhar é um pouco cedo. É como na história geral: normalmente temos capacidade para começar uma outra avaliação – não sei se é melhor ou pior – quando a última pessoa a conhecer o facto histórico morre. As primeiras histórias críticas da I Guerra Mundial foram feitas há 20 anos. Da II Guerra começam a ser feitas agora, por uma geração que não fez parte dos acontecimentos. No caso de Amália, a avaliação da geração seguinte vai ser muito diferente. O décimo aniversário da morte, provavelmente, é o primeiro passo. É mais fácil falar da questão politica, por exemplo, do que há dez anos.”
Chougnet já trabalhou sobre pesos-pesados da música popular como Serge Gainsbourg e Jacques Brel, mas não encontra paralelo francês para a relação “única” que os portugueses têm com Amália. “É uma relação de identificação enorme, e toda essa identificação é acompanhada de coisas verdadeiras e coisas falsas, toda a gente tem uma projecção sobre a imagem de Amália que é diferente da realidade. Ela continua a ocupar um lugar central na vida cultural do país, e é provavelmente a personalidade que mais representa o Portugal contemporâneo. Não há muitos casos assim. Talvez só a Oum Kalsoum, no Egipto. Se entrar num autocarro do Cairo, vai ouvir a Oum Kalsoum. Se entrar num autocarro em Lisboa, vai ouvir a Amália.” Num MP3 perto de si.
"Amália, Coração Independente" reparte-se entre o Museu Colecção Berardo e o muito próximo Museu de Electricidade em Lisboa
A exposição “Amália, Coração Independente” (de 6 de Outubro a 31 de Janeiro de 2010) reparte-se entre o Museu Colecção Berardo e o muito próximo Museu da Electricidade, em Lisboa. Não é obrigatório começar por nenhum deles, não há primeira nem segunda partes. São núcleos temáticos diferentes, mas paralelos: no Museu Berardo explora-se o “Mito/Diva”, no Museu da Electricidade o “Glamour”, aproveitando a cenografia industrial da antiga Central Tejo para exibir os vestidos e jóias (de cena e verdadeiras) de Amália.
Apesar de ser composta em grande parte por material e objectos iconográficos – fotografias, revistas, cartazes, capas de discos, trajes, acessórios, provenientes dos principais acervos amalianos, como a Fundação Amália Rodrigues, Museu Nacional do Teatro e Edições Valentim de Carvalho – não é uma exposição ilustrativa ou descritiva da vida e carreira da maior estrela do fado de todos os tempos.
No Museu Berardo, há uma cronologia inicial para contextualizar a figura, em que os principais momentos da carreira surgem sinalizados com a apresentação de trajes e acessórios usados em palco (mas a colecção principal de vestidos está no Museu da Electricidade). Uma das secções é dedicada à fotografia e à evolução da representação da fadista ao longo dos anos, mostrando a cumplicidade que Amália teve com fotógrafos nacionais e estrangeiros, geradora de imagens diversas e, nalguns casos, contrastantes. Noutra área explora-se a contemporaneidade de Amália, expondo peças de artistas que a tiveram como referência. Pela primeira vez são apresentados em conjunto os três corações de filigrana feitos a partir de talheres de plástico por Joana Vasconcelos, intitulados “Coração Independente”, e de cor diferente, a par de um vídeo do italiano Francesco Vezzoli, “Amália Traída”, súmula biográfica telenovelesca conduzida por duas divas, Lauren Bacall e Sónia Braga, e dos retratos produzidos por Leonel Moura e Adriana Molder.
Bruno de Almeida, autor de “The Art of Amália”, documentário concebido nos anos finais de Amália, realizou uma instalação-vídeo especialmente para a exposição, um trabalho de montagem e processamento de imagens de arquivo e sons que vai ser projectado em quatro ecrãs gigantes.
No centro da mostra haverá uma “sala de escuta”, que propõe uma síntese do reportório musical amaliano: 52 temas remasterizados pela Valentim de Carvalho a partir das gravações originais, que irão passar em contínuo. Jean-François Chougnet, director do Museu Berardo e coordenador de “Amália, Coração Independente”, explica que quis evitar “uma cacofonia dentro da exposição”, preferindo concentrar o som numa sala. Seria “uma traição a Amália” tratar o seu reportório como “música de elevador”, diz.
A exposição no Museu Berardo fecha com uma instalação-vídeo concebida por encomenda por Ana Rito: no tríptico “Encore”, duas bailarinas interpretam o tema “Grito” (do álbum “Lágrima”, de 1983), enquanto no ecrã central várias bocas pronunciam o nome de Amália como um mantra. Em qualquer dos casos, o som é inaudível para o espectador. Silêncio, que se vai cantar o fado.
O Teatro S. Luiz e o Museu do Fado desenvolvem em Outubro uma série de iniciativas para homenagear a fadista
No dia seguinte, 7 (18h30, entrada livre), debate-se o futuro do património de Amália. Um património que, escreve o moderador Rui Vieira Nery, passa pelo “legado físico do seu espaço íntimo”, pelo “registo da sua voz” e por todo “o corpus da documentação que se lhe refere”. Mas vai para além disso. Esse legado “é sobretudo o exemplo da sua postura artística que permanece vivo e continua a motivar intérpretes, poetas e compositores de todos os géneros, bem como artistas em todos os ramos”.
Para falar sobre esse património foram convidados Jean-François Chougnet, director do Museu Berardo, Sara Pereira, directora do Museu do Fado, Américo Lourenço, presidente da Fundação Amália, Vítor Pavão dos Santos, historiador de Teatro, José Carlos Alvarez, director do Museu do Teatro, Manuel Bairrão Oleiro, director do Instituto dos Museus e da Conservação, e David Ferreira, editor discográfico.
Para os dias 9 e 10 (23h30, no Jardim de Inverno), em Fadistas Cantam Amália, o São Luiz convidou os “intérpretes com quem [a fadista] partilhou grandes momentos da sua vida e alguns dos músicos com quem percorreu os quatro cantos do mundo”, para além de representantes da actual geração do fado – ocasião para ouvir Joana Amendoeira, Celeste Rodrigues e João Ferreira Rosa, acompanhados na guitarra portuguesa por Pedro Amendoeira e José Fontes Rocha, na viola de fado por Diogo Clemente e Pedro Pinhal, na viola baixo por Joel Pina e no contrabaixo (e também baixo) por Paulo Vaz, num espectáculo concebido por Hélder Moutinho.No Museu do Fado, entre 6 e 10 de Outubro, estarão expostas fotografias inéditas de Rui Valentim de Carvalho com Amália – homenagem à relação editor/artista que mantiveram desde 1952. Na mesma semana, o museu passa diariamente uma selecção de programas de concertos de Amália (entre 1962 e 1973) escolhidos pelo realizador Bruno de Almeida, num ciclo intitulado Memórias de Amália na Televisão. No dia 10, a terminar a semana, será exibido “The Art of Amália” de Bruno de Almeida.
Entre as iniciativas previstas pelo museu está ainda o espectáculo “Amália em Nova Iorque”, com encenação de Miguel Abreu e interpretação de Maria José Pascoal. E as Visitas Cantadas ao circuito expositivo, com vários artistas a interpretar temas do reportório de Amália.
Foi entretanto já lançada a colecção “Amália Nossa: A Primeira Época de Ouro”, em 12 livros com CD, um projecto editado por João Pinto de Sousa e coordenado por Rui Vieira Nery, que conta com comentários poéticos de Vasco Graça Moura e a direcção de arte e design de Maria João Ribeiro (uma edição Tugaland em parceria com o Museu do Fado, Fundação Amália, jornal PÚBLICO e Museu Colecção Berardo).
Para esta edição – distribuída em exclusivo com o PÚBLICO e disponível nas lojas Fnac – a Tugaland convidou 12 ilustradores a fazerem uma ilustração/imagem de Amália. Haverá também uma edição limitada de 12 LPs em vinil da mesma colecção que é editada em CD (a colecção em vinil é exclusiva para a Fnac).Mas há outros projectos editoriais em torno de Amália: o livro “Nessa Solidão Que É Minha: Amália e os Poetas Que Cantou”, uma compilação de todos os poemas gravados por Amália ao longo da sua carreira; e BD Amália+ 1 CD, uma edição em três volumes de uma banda desenhada de Nuno Saraiva, que “aborda numa linguagem algo ficcionada mas simultaneamente humorística a vida e obra de Amália”.
Vem aí uma versão remasterizada de "Com que Voz"
Amália e a Valentim de Carvalho tiveram uma relação de fidelidade que durou 47 anos e que apenas foi interrompida por um breve período de dois anos, entre 1958 e 1960, quando grava com a editora francesa Ducretet-Thomson. Nos seus últimos anos de vida, a Valentim de Carvalho (VC) editou alguns discos de inéditos, nomeadamente “Segredo”, em 1997, que, entre outros, continha temas compostos por Alain Oulman nunca publicados, e “Rara e Inédita” em 1989, que fez parte de uma caixa de oito CDs que assinalou os 50 anos de carreira. Em 2002, o 40º aniversário de “Busto”, um dos álbuns mais emblemáticos de Amália, foi pretexto para uma edição revista e aumentada, contendo versões alternativas de temas originais e registos de ensaios. Estes lançamentos vieram levantar a ponta do véu sobre a existência de material inédito nos arquivos da VC, cuja dimensão e características talvez nunca tenham sido publicamente esclarecidas. Rui Vieira Nery, coordenador da colecção de 12 CDs “Amália Nossa” que desde a última semana começou a ser vendida pelo PÚBLICO, lamenta que a edição integral e crítica da discografia de Amália ainda não tenha sido feita. “Devíamos já ter todas as sessões de gravação, devíamos saber exactamente o que é que se fez, que ‘takes’ é que foram rejeitados. Tenho a impressão que não há uma nota gravada em estúdio pela Billie Holiday que não esteja editada com comentários. Este trabalho básico não está feito no caso da Amália.”
Em 1999, David Ferreira, então director da EMI-VC, encarregou Jorge Mourinha (actual crítico do PÚBLICO) de inventariar e datar toda a discografia e todo o material gravado por Amália, procurando fixar um reportório o mais exaustivo possível. Uma base de dados que viria a servir de referência a um plano de edições e reedições críticas da discografia de Amália, entretanto iniciado com alguns lançamentos: “Amália/Vinícius”, “Bobino”, “For Your Delight” e “Abbey Road 1952”. David Ferreira, que deixou a EMI e a VC em 2007, mas desde a Primavera é consultor para o catálogo Amália, tenciona lançar uma edição remasterizada e crítica de “Com Que Voz”, com “takes” adicionais, à semelhança de “Busto”, prevista para Março de 2010, no 40º aniversário do álbum. Até final do ano, também planeia editar discos com a Amália a cantar em espanhol, italiano e francês.
Contagem aproximada do material inédito por década: cerca de 30 trechos nos anos 50, que são sobretudo “takes” alternativos de temas editados ou registos de ensaios e “quatro ou cinco inéditos absolutos”; dos anos 60 existem oito inéditos, “entre os quais um possível inédito absoluto”, e dos anos 70, outros oito, mas “quase todos absolutos”; dos anos 80 estão identificados quase 40 inéditos, gravados na sua maioria no início da década, e entre os quais se incluem as gravações feitas para o que deveria ter sido um LP de músicas populares, com orquestra, que não chegou a ser publicado. David Ferreira diz que a sua preocupação sempre foi “prestar um bom serviço”, fazendo “edições cuidadas e seguras” com “som de qualidade”. “Não assino coisas que não sejam bem feitas. As grandes obras são grandes desafios e não podem ser tratadas com os pés. Compare com a arca do Pessoa 10 anos depois da sua morte. A arca do Pessoa demorou muito tempo a ser catalogada.”
Revista Ipsilon, Jornal Público, 02 de Outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Amália Rodrigues com o jornal Público

quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A Natalidade de Natália, de Fernando Dacosta
terça-feira, 4 de agosto de 2009
As Obras Completas de William Shakespeare chegaram hoje aos 200 Mil Espectadores


E agora, palavras de Carlos Fragateiro (ex-director do Teatro da Trindade e do Teatro Nacional D. Maria II), retiradas da página pessoal do Facebook do actor Simão Rubim (a quem foi pedida licença de retirar este excerto):
terça-feira, 21 de abril de 2009
Lançamento da Fotobiografia de Amélia Rey Colaço

Fotobiografia de Amélia Rey Colaço
Livro pode ser pretexto para pensar sobre o teatro português
A fotobiografia de Amélia Rey Colaço, lançada esta semana, procura dar a conhecer a vida da actriz de referência e ser pretexto para "pensar o teatro em Portugal", disse a sua autora, a historiadora Júlia Leitão de Barros. Amélia Rey Colaço é a quarta personalidade editada no âmbito da colecção "Fotobiografias do século XX", do Círculo de Leitores, dirigida por Joaquim Vieira, e que já publicou as de Amália Rodrigues, Fernando Pessoa e Vasco Santana.
"É um óptimo pretexto para pensarmos sobre a prática teatral portuguesa" tanto mais que, sublinhou Júlia Leitão de Barros, "quem conhece a historiografia respeitante a este vasto campo cultural sabe bem como as reflexões sobre o teatro em Portugal têm recaído, quase exclusivamente, nos autores e na sua dramaturgia".
"As empresas, os actores, a encenação, a cenografia, as práticas, a crítica, os públicos, etc., têm sido quase esquecidos", prosseguiu.
Esta obra apresenta "imagens sugestivas e um texto que permite "pensar sobre as relações da arte com o poder político e do poder político com a arte, sobre as representações sociais da arte (e a concorrência entre elas) sobre os campos de legitimação do artista, etc.", disse.
A historiadora afirmou que a principal dificuldade que encontrou foi "a carga política associada a Amélia Rey Colaço".
"Depois - prosseguiu - as inerentes à temática, isto é, o carácter efémero do acto de representar e, por último, a falta de estudos sobre o teatro em Portugal".
A feitura deste livro levou cerca de dois anos e meio, tendo cabido a selecção das 192 fotografias a Joaquim Vieira, alguns delas inéditas.
Quanto às fontes documentais utilizadas, Júlia Leitão de Barros consultou o espólio particular da actriz depositado no Museu Nacional do Teatro mas também a imprensa da época "e memórias de gente de diversa formação, que se cruzou com ela", para além de ter contado com os testemunhos da sua filha, a actriz Mariana Rey Monteiro, e da neta Rita Garnel.
Breve biografia da actriz
Amélia Rey Colaço nasceu em Lisboa em 1898 e representa pela primeira vez em 1904 numa récita particular. Em 1914, actua em Madrid, onde declama Afonso Lopes Vieira e Luís de Camões. Atravessa mais de cinco décadas de sucesso em sucessivas peças com êxito até que em 1974 suspende a actividade no Nacional D. Maria II.
Em 1982, participa pela primeira vez numa série televisiva, "Gente fina é outra coisa", ao lado da filha Mariana Rey Colaço, Simone de Oliveira, Nicolau Breyner, Rui de Carvalho, entre outros.
Em 1985, prepara a sua despedida dos palcos e monta a peça inédita de José Régio "D. Sebastião", em Portalegre, no Cine-Teatro Crisfal.
Faleceu na sua casa em Lisboa, a 8 de Julho de 1990.
Fonte: Lusa/SIC Notícias
segunda-feira, 16 de março de 2009
EXEQUIAL DE AMÁLIA RODRIGUES

Emudeceu a voz que levou o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo. A Nação está de luto. Todos nos curvamos respeitosamente perante os restos mortais de Amália, a artista singular que cantou, como ninguém, a saudade da alma portuguesa e fez vibrar as cordas da tristeza em acordes de alegria. Artista verdadeira e construtora genial da beleza musical ficará para sempre associada ao mistério da criação. Nela brilhou com fulgor o poder criador de Deus. Pela música, abriu, a seu modo, «um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo», afastou para longe o desespero que invade os espíritos embotados e fez nascer a alegria no coração dos homens. Através da música, cultivou a beleza que, no dizer do papa João Paulo 11, «é chave do mistério e apelo ao transcendente. Convida a saborear a vida e a sonhar o futuro». Suscita nos homens a misteriosa saudade de Deus, Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento e alegria inexprimível (Cf Carta aos Artistas, 16). Cantou a saudade da terra, do mar e do céu. Saudade do passado. Saudade do futuro. Saudade da origem. Saudade do Além. Saudade de Deus que a criou. Saudade de Deus que a chamou para a outra margem da vida, sempre envolta em mistério, inacessível tanto à ciência como à filosofia e onde apenas a luz da fé pode fazer brilhar a esperança. Amália era uma mulher crente. Disse-o muitas vezes. Da sua fé falam os actos que praticou. As imagens que religiosamente trouxe consigo ou venerou religiosamente no santuário do seu lar. As orações que rezou. As esmolas que deu. As amizades que partilhou com as mais variadas classes de pessoas. Na sua vida há reflexos daquele ideal evangélico, sintetizado por Jesus Cristo nas bem-aventuranças, que há pouco foram proclamadas para nós, no decorrer desta celebração. As bem-aventuranças condensam o ideal mais elevado a que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, pode e deve aspirar. É um ideal sublime que contrasta com os ideais humanos. Difícil de captar por quem vive enredado nas teias da razão, envolto no turbilhão da vida, absorvido com as preocupações da cidade terrena e esquecido das exigências da cidade celeste. Esse ideal toma-se mais luminoso e compreensível nos momentos fortes do confronto directo com o mistério como este que estamos a viver. Quando «a tenda que é a nossa morada terrestre » se desfaz e, libertos do exílio, se nos franqueiam as portas do infinito, para entrar na «habitação eterna, que é obra de Deus (Cf 2Cor5, 1). Quando, iluminados pela fé e alentados pela esperança, nos confrontamos com uma experiência limite, então conseguiremos compreender o valor da simplicidade e da misericórdia, da humildade e da pureza de coração, do sofrimento, da perseguição e da luta pela justiça, como forças geradoras de paz, de alegria e de amor, tal como Jesus Cristo no ensina com o sermão da montanha. Com efeito, o que fica depois da morte é o espírito e não a matéria. O que acompanha, no Além, os que partem desta vida, é o bem que praticaram e não as riquezas que acumularam. Todos partem de mãos vazias. A bagagem chama-se justiça e verdade, amor e perdão. É invisível. Mas é real. Para os que partem munidos desta bagagem, cresce a esperança de imortalidade e a certeza da fé: «Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar a nós para nos levar para junto d'Ele» (2 Cor.4,14).
Lisboa, 8 de Outubro de 1999
† José Alves, bispo auxiliar
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Espanha atrasou canonização [de D. Nuno Álvares Pereira]

D. Nuno passará a santo em cerimónias em Fátima ou Vila Viçosa
"A partir da restauração da independência de Portugal os espanhóis passaram a ver D. Nuno Álvares Pereira com maus olhos. E esta foi a grande razão pelas qual o processo de canonização nunca foi para a frente. " Quem o diz é D. Duarte de Bragança, descendente do Condestável e um dos grandes promotores da causa, que de acordo com as suas próprias palavras terá desenvolvido, a partir de 2000, contactos com as igrejas espanhola e portuguesa, para que esta fosse reconhecida e o processo avançasse. Contudo, reconhece, a guerra colonial, nos anos 60 também terá dado um contributo para os atrasos neste processo, que se arrastou durante décadas, porque D. Nuno Álvares Pereira era um militar.
Ontem a causa atingiu o seu fim. O Papa Bento XVI anunciou a canonização de dez beatos, entre os quais o português Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, de acordo com um comunicado do Vaticano. Nuno Álvares Pereira integra, ao lado de quatro italianos, o primeiro grupo, que será canonizado no dia 26 de Abril próximo.
O guerreiro e carmelita Nuno Álvares Pereira, que viveu entre 1360 e 1431, já fora beatificado em 1918 por Bento XV. Mas só nos últimos anos, a Ordem do Carmo (em que ingressou em 1422), em conjunto com o Patriarcado de Lisboa, decidiu retomar a defesa da causa da sua canonização. E o processo foi reaberto a 13 de Julho de 2004, nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, em sessão solene presidida por D. José Policarpo. Uma cura milagrosa reconhecida pelo Vaticano, relatada por Guilhermina de Jesus, uma sexagenária natural de Vila Franca de Xira, que sofreu lesões no olho esquerdo, por ter sido atingida com salpicos de óleo a ferver quando estava a fritar peixe, foi o passo final.
Apesar dos atrasos, D. Duarte considera que a canonização de D. Nuno Álvares Pereira chegou no momento certo. "Porque os valores que ele defendia, como o amor pelos adversários, a tolerância religiosa e a defesa da pátria, estão nesta altura a precisar de ser realçados".
D. Duarte recorda ainda que o processo de canonização esteve para ser concluído por decreto durante a segunda Guerra Mundial, pelo Papa Pio XII, mas o Governo português da altura não aceitou por considerar que não teria o mesmo valor.
Agora, a Fundação D. Manuel I está a promover "uma peregrinação ao Vaticano" para assistir à cerimónia da sua canonização, diz o descendente da família rela portuguesa. Mas D. Duarte quer também que se realizem no mesmo dia cerimónias em Fátima e em Vila Viçosa. Esta, por ser um local a que o Santo Condestável estava muito ligado, tendo lá mandado construir uma igreja. E em Fátima, por ser um local de culto, mas também porque a vila pertence ao concelho de Ourém e D. Nuno Álvares Pereira era conde de Ourém, salienta D. Duarte.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Funchal 500 Anos

21 de Agosto de 1508
D. Manuel por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África, senhor de Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia.
A quantos esta nossa carta virem, fazemos saber que considerando nós, como louvores a Nosso Senhor, (a maneira como) a vila do Funchal, na nossa ilha da Madeira, tem crescido em muito grande povoação e como vivem nela muitos fidalgos, cavaleiros e pessoas honradas e de grandes fazendas, pelas quais e pelo grande tracto (do comércio) da dita Ilha, esperamos com a ajuda de Nosso Senhor, que a dita vila muito mais se enobreça e acrescente;
E havendo respeito ao muito serviço que recebemos dos moradores, e esperamos ao diante receber, e assim, por folgarmos de fazer honra e mercê aos ditos fidalgos, cavaleiros, escudeiros e povo dela, sem eles, nem outrem por eles no-lo pediram nem nos requerer;
Nós, de nosso moto próprio Poder Real e Absoluto, com aquela boa vontade que sempre tivemos e temos para todo e bem maior acrescentamento das coisas da nossa vila; Por esta presente carta, nos apraz a fazermos, e de feito fazemos cidade e queremos e nos apraz que daqui se intitule e chame cidade e tenha todas as insígnias que as cidades de nossos Reinos pertencem ter, e use e goze de todos os privilégios, preeminências, liberdades, mercês, graças e franquezas de que gozam e usam, e devem gozar e usar as cidades dos ditos nossos Reinos, e que pelos Reis nossos antecessores e por Nós lhe são outorgados.
Porém, notificamos assim a todos em geral e mandamos a todos nossos corregedores, desembargadores, juízes, justiças, oficiais e pessoas q que esta nossa carta for mostrada, e o conhecimento dela pertencer, por qualquer guisa e maneira que seja, que em todas as coisas da dita cidade lhe cumpram e guardem e façam muito inteiramente cumprir, e guardar os privilégios, liberdades, graças, preeminências, honras e mercês que são outorgadas às cidades de nossos Reinos, e de que elas devem gozar e usar das insígnias que lhe pertencem ter, como dito é, sem lhe irem, nem consentirem ir em parte, nem em todo contra coisa alguma das sobreditas, porque nossa mercê e vontade é que muito inteiramente lhe seja tudo guardado e sem contradição alguma.
E por certidão disso lhe mandamos dar esta carta, por nós assinada e selada de nosso selo pendente.
Dada em Sintra, (aos) 21 dias do mês de Agosto do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e oito.
Estes privilégios de que assim nos apraz que goze a dita cidade do Funchal não serão aqueles que em especial são outorgados a algumas cidades de nossos Reinos, por que somente usarem e gozarem daqueles que em geral são dados e outorgados à cidades de nossos Reinos. El Rei
Proposta de leitura actualizada
in Funchal 21 de Agosto 1508-2008
Funchal 500 Anos E. E. M.
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008
14 de Agosto de 1385
Júlio Dantas irá "antever" todas as palavras e acções desse "Cardeal Diabo", que procurará expôr todos os erros e pecados praticados pelo Condestável, incluindo a análise à sua ascendência.
Logo no inicio do capitulo refere que Nuno Alvares é o "nosso Bertrand du Guesclin" (n. 1320, m. 1380; Condestável da França de 1370 a 1380; importante figura da Guerra dos Cem Anos.)"
Pelas contas de Julio Dantas, a Sagrada Congregação reunir-se-á no ano de 2016.
Segundo Julio Dantas, um quinto avô paterno - Gonçalo de Fruias - teve dois filhos loucos do primeiro e do segundo casamento.
Julio Dantas faz de seguida um retrato do futuro santo, utilizando para isso a escassa documentação iconografica existente. Referir-se-á à estátua tumular mandada da Flandres pela Duquesa de Borgonha; as descrições de Frei Simão Coelho, de Fernão Lopes, de Frei José de Sant'Anna e de Frei Domingos Teixeira. Chamará a atenção da Congregação para o "seo nariz afilado e agudento", para "as sobrancelhas arcadas e ruivas", para "a pouca barba, tão caracteristica nos degenerados". (pág. 113)
Julio Dantas escreve de seguida sobre o casamento de Nuno Alvares e a sua abstinência, "onde muitos já querem vêr o helo d'oiro da beatitude, não representa mais do que uma série de inhibições verdadeiramente pathologicas, a que não foi extranha a influencia das novellas do cyclo bretão, e especialmente do Livro de Galaaz, que o "santo condestabre" constantemente lia". (pág. 113).
Passar-se-á depois a analisar o "santo condestabre" enquanto herói e homem de guerra.
"O que tornou heroico o "santo condestabre" não foi, por conseguinte, a excellencia da sua virtude: foi o acaso da sua doença". (pág. 117).
"Por conselho dos fisicos o officio de Gil Ayras seu escrivão da puridade nom era outro senom guardar que nenhû home nom chegasse a elle a lhe falar, especialmente com cartas. E todallas cartas que lhe vinhão Gil Ayras tomava em sy e guardava e escrevia a aquelles que lhes enviavam os termos em que o conde era de sua dor" (pág. 119).
E conclui Julio Dantas: "Foi então, aos 62 annos, não porque o tocasse um brusco fervor mystico ou o illuminasse a graça divina (e no seu libello o cardeal promotor ha de accentual-o bem), mas pelo seu irreductivel horror aos homens, pela sua progressiva misanthropia, pela ruina evidente das suas faculdades mentaes, - foi então que o "santo condestabre" se refugiou no mosteiro do Carmo, na qualidade de simples donato, ainda como constraste vaidoso com o seu antigo explendor secular." (pág. 119).
E prossegue: "Creatura por natureza declamatoria e theatral, quiz dar ao povo o espectaculo de um condestavel do Reino a mendigar pelas portas com o seu bordão, o seu tabardo de burel e a sua barba branca, - mas, diz o Compendio de Chronicas de Nossa Senhora do Carmo, - "não lh'o consentiram os infantes". Morreu oito annos depois, amollecido, demente, esqueletico, rodeado de frades, mal sustendo nos dedos uma vêla accesa, cingido ainda n'um cilício aspero, - e o povo, impressionado pelo constraste da extincção d'esse quasi rei na cinza e na humildade de um habito carmelita, tocou em volta do seu nome uma lenda de santidade que floriu pelo tempo adiante em pretendidos milagres e em suppostos prodigios". (pág. 120).
Julio Dantas ainda refere que Nuno Alvares, "é tão legitimamente, ou antes, tão illegitimamente canonisavel como qualquer outro mestre na arte suprema de matar e de triumphar, - César ou Alexandre, Attila ou Nicéphoro Phocas, Carlos V ou o Principe Negro, Filisberto de Saboya ou Frederico da Prussia, o Principe de Saxe ou Napoleão". (pág. 121)."