Está toda a gente muito preocupada por os homossexuais não se poderem casar - eu estou muito mais preocupado por os deputados não poderem pensar. Ao aprovar a disciplina de voto (com excepção de uma mascote da JS, que está autorizada a votar a favor da proposta e assim demonstrar a extraordinária "pluralidade" dos socialistas) numa matéria claríssima de costumes e de consciência individual como é o casamento dos homossexuais, o PS enfiou mais uma machadada na credibilidade do Parlamento e dos seus deputados. Obrigado, Alberto Martins.
A bancada parlamentar do Partido Socialista, que tanto se orgulha da sua liberdade, é assim como uma claque de futebol: o chefe manda bater palmas, eles batem palmas; o chefe manda sentar, eles sentam-se; o chefe manda levantar a mão, eles levantam a mão. Sinto até um certo embaraço por um dia ter pensado que cada deputado tinha o seu próprio cérebro e que era com ele que votava na Assembleia de República. Graças ao badalado projecto de lei do Bloco de Esquerda, o grupo parlamentar do PS teve a amabilidade de me mostrar o quanto eu estava enganado.
Por isso, pedia humildemente aos especialistas em ciência política que tivessem a caridade de esclarecer esta alma baralhada: para que raio serve, afinal, a disciplina de voto? Porque é que devemos permitir que os deputados que nós elegemos e cujos salários nós todos pagamos votem como se a única coisa que os distinguisse de um rebanho fosse a gravata? Para que é que existem 230 deputados na Assembleia da República se no momento mais nobre da sua actividade - a votação das propostas - eles não estão autorizados a decidir segundo a sua consciência? É que se cada deputado está impossibilitado de se exprimir individualmente, uns 20 tipos chegavam e sobravam para distribuir proporcionalmente os votos do País. Se a disciplina de voto é a regra, então há pelo menos 210 cabeças a mais em São Bento.
E tão grave quanto a disciplina de voto do PS é a sua justificação. Segundo Strecht Ribeiro, vice-presidente do grupo parlamentar, os socialistas não estão a votar contra o casamento dos homossexuais. Nada disso. O que eles estão é a votar contra "o oportunismo político" do Bloco de Esquerda. Ou seja, o PS acredita que a situação actual dos gays é manifestamente injusta. Mas entende que esta não é a altura certa para reparar a injustiça. Extraordinário. Nós vivemos num país onde o partido que nos governa entende que até a correcção de injustiças que não dependem de mais nada senão da aprovação de uma lei deve obedecer a um timing certo. E os oportunistas políticos são os outros, claro. Partidos destes não deviam sentar-se no Parlamento. Partidos destes deviam sentar-se nas bancadas do Estádio de Alvalade.
A bancada parlamentar do Partido Socialista, que tanto se orgulha da sua liberdade, é assim como uma claque de futebol: o chefe manda bater palmas, eles batem palmas; o chefe manda sentar, eles sentam-se; o chefe manda levantar a mão, eles levantam a mão. Sinto até um certo embaraço por um dia ter pensado que cada deputado tinha o seu próprio cérebro e que era com ele que votava na Assembleia de República. Graças ao badalado projecto de lei do Bloco de Esquerda, o grupo parlamentar do PS teve a amabilidade de me mostrar o quanto eu estava enganado.
Por isso, pedia humildemente aos especialistas em ciência política que tivessem a caridade de esclarecer esta alma baralhada: para que raio serve, afinal, a disciplina de voto? Porque é que devemos permitir que os deputados que nós elegemos e cujos salários nós todos pagamos votem como se a única coisa que os distinguisse de um rebanho fosse a gravata? Para que é que existem 230 deputados na Assembleia da República se no momento mais nobre da sua actividade - a votação das propostas - eles não estão autorizados a decidir segundo a sua consciência? É que se cada deputado está impossibilitado de se exprimir individualmente, uns 20 tipos chegavam e sobravam para distribuir proporcionalmente os votos do País. Se a disciplina de voto é a regra, então há pelo menos 210 cabeças a mais em São Bento.
E tão grave quanto a disciplina de voto do PS é a sua justificação. Segundo Strecht Ribeiro, vice-presidente do grupo parlamentar, os socialistas não estão a votar contra o casamento dos homossexuais. Nada disso. O que eles estão é a votar contra "o oportunismo político" do Bloco de Esquerda. Ou seja, o PS acredita que a situação actual dos gays é manifestamente injusta. Mas entende que esta não é a altura certa para reparar a injustiça. Extraordinário. Nós vivemos num país onde o partido que nos governa entende que até a correcção de injustiças que não dependem de mais nada senão da aprovação de uma lei deve obedecer a um timing certo. E os oportunistas políticos são os outros, claro. Partidos destes não deviam sentar-se no Parlamento. Partidos destes deviam sentar-se nas bancadas do Estádio de Alvalade.
João Miguel Tavares, Diário de Notícias, 07 de Outubro de 2008
1 comentário:
Mas ninguém disse ao Bloco para deixar ser o PS a avançar com a proposta? É a típica atitude do "a bola é minha, agora mais ninguém joga!". Só que quem se lixa é, comme d'habitude, o dito cujo...
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