quinta-feira, 31 de julho de 2008

a fotonovela do nacional

A fotonovela da direcção do Teatro Nacional D. Maria II está longe de ser resolvida. Finalmente o ministro da cultura conseguiu afastar Carlos Fragateiro, mas será que vai conseguir nomear Diogo Infante para o cargo? Será que o convite ainda está em cima da mesa depois do ex-director do Teatro Municipal Maria Matos ter "anunciado" o referido convite? Quem será o próximo director do Nacional? Será que o primeiro-ministro, na mini-remodelação, fez bem em mudar a equipa do ministério da cultura?
Até ao lavar dos cestos é vindima. Aproveito para deixar transcritos 3 artigos do Expresso sobre este assunto.

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Pinto Ribeiro não resolve novela do D. Maria

Ministro da Cultura não tem autonomia para decidir quem entra e quem sai do maior Teatro nacional.

O ministro da Cultura está de mãos e pés atados. Não tem autonomia para exonerar Carlos Fragateiro da direcção do D. Maria e também não pode decidir sozinho nomear Diogo Infante para o cargo.

A crise no maior Teatro português é o primeiro revés que Pinto Ribeiro enfrenta desde que tomou posse a 30 de Janeiro e deixa a descoberto uma crise institucional. Tudo teria sido mais fácil se o processo tivesse decorrido ao contrário: primeiro a demissão de Carlos Fragateiro decorrente das “irregularidades” nas contas do D. Maria que o ministro diz estarem a ser analisadas; e só depois o convite a Diogo Infante.

É que, ditam os estatutos, desde que em 2004 foi transformado em Sociedade Anónima e dois anos depois em Entidade Pública Empresarial, o Nacional passou a ser tutelado pelos Ministérios das Finanças e da Cultura, o que obriga a que qualquer exoneração e nomeação seja objecto de resolução do Conselho de Ministros e aprovação do primeiro-ministro, José Sócrates.E se, por um lado, a agenda do Governo ainda não permitiu a discussão do assunto, por outro, diz fonte próxima do gabinete de Pinto Ribeiro, “as movimentações no seio do Governo e ao nível da máquina partidária do PS têm ditado prudência” ao ministro. A mesma fonte lembra que a mesma prudência “deveria ter sido usada para convidar Diogo Infante”.

Recorde-se que o actor e encenador, em reunião com o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, a vereadora da Cultura, Rosália Vargas, e o presidente da EGEAC, Miguel Honrado, revelou que já não estava disponível para dirigir o Teatro Municipal Maria Matos porque pretendia assumir o cargo de director artístico do D. Maria.

De resto, dentro da estrutura dos socialistas, António Costa (considerado o número dois do PS de Sócrates) terá sido o primeiro a ficar incomodado com a tomada de posição de Pinto Ribeiro. O presidente da autarquia da capital estava disposto a resolver os problemas orçamentais alegados em primeiro lugar pelo actor como razões da sua demissão e “sentiu-se ultrapassado” pelo ministro da Cultura, comentou ao Expresso um dos assessores da vereação da Cultura.

Quanto a Carlos Fragateiro, o director do Teatro Nacional D. Maria II é considerado um homem próximo do PS. E se o seu elo mais forte começou por ser Ferro Rodrigues, ainda à frente do Ministério do Trabalho e Segurança Social, tutela do INATEL e do Teatro da Trindade, que Fragateiro chefiou durante uma década, o seu posicionamento hoje é bem mais próximo de José Sócrates.

Sem a faca e o queijo na mão, o ministro da Cultura não tem outro remédio senão esperar por fumo branco. A pressa e voluntarismo iniciais deram lugar à prudência ministerial. Agora, mesmo que o caso seja resolvido da forma que Pinto Ribeiro deseja, não deixa de significar o seu primeiro revés sério à frente do Ministério da Cultura, em que sucedeu a Pires de Lima.

Alexandra Carita, in Expresso, 26-VII-2008

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Carlos Fragateiro demitido

O director do Teatro Nacional D. Maria II foi exonerado pelo Chefe de Gabinete de Pinto Ribeiro. O Ministério da Cultura não comenta.

Chamado hoje de urgência ao Palácio da Ajuda, Carlos Fragateiro foi recebido pelo chefe de gabinete do ministro da Cultura que lhe comunicou a sua demissão do cargo.

O Ministério da Cultura não comenta a exoneração de Carlos Fragateiro do cargo de director e presidente do conselho de administração do Teatro Nacional. A assessoria de imprensa de Pinto Ribeiro limita-se a citar que "por despacho conjunto do Ministério da Cultura e do Ministério das Finanças de dia 28 de Julho de 2008, e nos termos e para os devidos efeitos do disposto nos estatutos do Teatro Nacional D. Maria II, foi dissolvido o conselho de administração".

Quanto ao futuro do teatro, nomeadamente no que diz respeito à nomeação de um novo conselho administrativo e de um director artístico, Rui Peças, assessor de imprensa de Pinto Ribeiro, afirma apenas que "a seu tempo se saberá alguma coisa".

A substituição de Fragateiro por Diogo Infante continua assim sem confirmação por parte da tutela. As causas da dissolução do conselho de administração também não foram esclarecidas.

A "novela" do D. Maria teve início a 27 de Junho com a demissão de José Manuel Castanheira da administração do teatro, mas foi com o convite dirigido a Diogo Infante para assumir a direcção artística da casa, revelado a 4 de Julho, que a polémica rebentou.


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Fragateiro diz que Pinto Ribeiro "é um mau ministro"

Carlos Fragateiro, ontem demitido da direcção do Teatro Nacional, afirma em conferência de imprensa que José António Pinto Ribeiro não teve coragem de o confrontar, acusa-o de "pouca ética" e de "muita falta de respeito".

Em conferência de imprensa terminada há instantes, Carlos Fragateiro acusa José António Pinto Ribeiro de ser "um mau ministro". Fragateiro adianta, no entanto, que a sua acção enquanto governante "poucos danos poderá fazer". O director demissionário refere que a Língua Portuguesa "está bem no Ministério dos Negócios Estrangeiros" e frisa que "muitos grandes projectos culturais nascem no Ministério da Economia".

Carlos Fragateiro classifica os pressupostos da sua demissão como "muito frágeis", avançando apenas que Ministério da Cultura o acusa de "falta de ecletismo". "Quando fui à Ajuda a 14 de Julho, e me foram lidos os pressupostos da minha demissão, achei-os tão frágeis que não acreditei que ela fosse para a frente", explica o ex-director do D. Maria. "O processo é todo ele muito preocupante, com pouca ética e muita falta de respeito", continua Fragateiro. "Vindo de uma pessoa que aparece com a capa de paladino dos Direitos, Liberdades e Garantias, demonstra que ela ficou presa numa rede de intrigas pouco consistentes", adianta.

O ex-director do maior teatro do país levanta ainda o véu sobre a reunião que teve com os representantes do Ministério da Cultura e do Ministério das Finanças mais uma vez para acusar o processo de falta de ética. "Não me deram para ler o documento que me leram em voz alta e gravaram com a minha autorização. Ontem, quando fui recebido pelo chefe de gabinete do sr. ministro, pedi a transcrição dessa conversa e a gravação. Disseram-me que não tinha sido transcrita porque eu tinha falado muito, o que me leva a crer que nada do que disse foi analisado ou sequer lido".

Carlos Fragateiro deixa ainda um desafio ao ministro da Cultura, que em seis meses nunca o recebeu: "Continuo disponível, como sempre estive, para discutir com o ministro da Cultura todos os assuntos ligados à política cultural, onde e quando ele quiser, agora já não em gabinetes da Ajuda, mas sim publicamente.

Falta explicar os termos concretos da exoneração.

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